26 de setembro de 2014

as memórias que não me pertencem


Muitas vezes, questiono-me sobre o porque de ter escolhido o retrato fotográfico como objeto de estudos. Que encanto é esse que vejo nas imagens de pessoas que para mim são ilustres desconhecidas, anônimos que para alguém são avós, mães, tios, sobrinhos ou irmãos? 

O nó dado no tempo e no espaço e congelado numa foto foi um momento de uma vida vulgar, que por algum motivo mereceu ser registrado. E eu, diante daquela memória que não me pertence, sinto-me alheia, porque pouco sei além daquilo que vejo, do que posso deduzir e ficcionalizar.

Depois de participar do Seminário Arte, Cultura e Fotografia, em São Paulo, as ressonâncias fizeram-me novamente me questionar sobre este encantamento. Fiquei pensando: será que olhar os retratos dos outros é uma maneira de suprir a falta dos meus? 

Sempre senti uma necessidade de ver a minha narrativa familiar, as minhas faces e fases da infância, as memórias visuais de tempos passados e de entes desconhecidos, mas queridos porque alguém teria uma bela história para contar sobre eles enquanto me mostrava um retrato… Mas, infelizmente, devido a tantas mudanças de lugar (casas, cidades, país e, principalmente, de mim), quase não tenho registros familiares e nem individuais mais antigos. 


Acho que tento reencontrar nas memórias visuais e afetividades dos outros, algo que em mim se perdeu ou nunca existiu. Mas se eu não tenho um álbum de retratos cheio de registros para preencher os vazios da minha memória e me ajudar a reconstruir as minhas narrativas de vida, eu tenho um vazio maior ainda por preencher como bem entender. 


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